Terça-feira de verão

Terça-feira porreta essa,
O corpo queimado de sol, a boca amarga de cacau.

O calor do verão que começa é a alegria dos quiosques de praia.
Haja geladeira pra tanta cerveja.

No Shit (?)

"Tentaram fazer um planeta
Um planeta de aço, de ferro e latão
Primeiro fizeram a espada, depois o revólver e depois o canhão.
Ah, imaginavam que o homem era deus.
Imaginavam e ainda imaginam.
Imaginam wrong, imaginam erado.
Now I understand the violence.

Atitude meu, atitude. O mundo está aos seus pés, tome uma atitude.
Eu não sou apenas mais um conjunto harmônico entre beleza e virilidade, não. Eu sou um verbo imperativo, eu sou um cavalo selvagem, eu sou um grito preso na garganta, eu sou o enigma da esfinge, eu sou a bala que matou Kennedy, melhor, eu sou o cérebro de Kennedy vazando na fronte com Jaqueline de quatro tentando me colocar de volta no crânio. Eu sou o desconcerto, o inviável, o constrangimento trágico, eu sou um evento, um marco histórico!"

Cinco minutos

Já faz uma semana que eu não te vejo,
que eu não te beijo,
que eu não te sinto.

Já faz uma semana que eu minto pra mim mesmo,
que eu guardo segredo,
que eu morro o dia inteiro.

Ontem

Ontem tomei chuva voltando pra casa.
Uma terça-feira deserta
e a minha camisa ensopada,
pingando de frio -
perambulando sozinho.

Esportes radicais no Reino Unido

Eu vou saltar de parapente
vou voltar do distante para o presente.
Eu vou arriscar nossas vidas por uma mísera quantia
180 libras
e um beijo de despedida.

Cozinhando minha vida num molho de macarrão:
Bacon, timidez, madrugadas sozinho e pimentão,
E um punhado de manjericão.

Misturo tudo tomando cerveja e ouvindo um disco da Nara Leão.

A.I. - 1 - Chuva

DANCEI NA CHUVA DO SEU AMOR

SEM MEDO NEM PUDOR

AGORA VIVO SOZINHO - 

INQUIETO.

ESPERANDO NOVAMENTE TE CHOVER NO MEU DESERTO

O que eu diria,

Uma vez perguntaram o que eu diria.

O que eu diria: L.M.D > Bob Dylan Bob Dylan Ballad Of A horrores assim tão impossíveis quanto montanhas enormes e pedras e pedras e o espaço vazio.

Luz de Mercúrio

Vive
Morre
Vive, Vi-vive
Morre.

vive
Vive,
vive
vive
vive,  vive, vive,
Morre.

Seus Pés (Garota Clareira)

Amo seus pés descalços
fotografados-
na areia, na rua, no mundo.
refletidos-
deitados em qualquer chão.
mergulhada em qualquer ar.

Depois do show do Porcas no último sábado

Depois do show do Porcas no último sábado
te mostrei meus discos,
e meus quadros.
Nós dormimos lado a lado,
deitados no mesmo quarto,
enjaulados um ao outro.
Numa suave manhã de domingo nublado.

Despedida (Quarta de Cinzas)

A despedida é triste
é fria e chora.
Com os passos molhados,
vou embora,
nós vamos.

Na Segunda eu era Brasa
na Quarta sou Cinzas.

Minha alegria aos poucos se apaga e se perde como a fumaça densa no ar.
Amanhã cedo tenho que trabalhar.

Depois do expediente

Depois do expediente
ela disse
de repente,
a gente pode até se ver.

Na sala sofá
no quarto cama
de casal.
Calças,
camisas, no chão.

Metal na pele
calor e suor
e Final.

Porão de Xuva

Hoje eu te vi
e você não me viu.
Não desconfiou,
nem sentiu
o Grande Vazio.

Saudade

Hoje é dia de saudade
como todos, na verdade.
A falta é constante em minha casa,
por isso escrevo e enterro meus poemas numa cova rasa

Em minha varanda, sentado.
Ela parada do meu lado,
onde você se sentava.
Baseados e palheiros de madrugada.

Depois de noites rasas,
voltávamos para minha casa.
Nossos corpos juntos em brasas.

E após mais uma noite vaga,
volto sozinho pra casa
e morro em minha cama gelada.

Caio Fernando Abreu - Luz e Sombra (Morangos Mofados)

"O dia está muito quente. Quando a tarde avançar, sei que me encontrará sentado no degrau. E depois que o cinza tiver se transformado em rosa e em violeta e em azul profundo e por fim em negro, sei que estarei parado no centro daquele quarto, ouvindo guinchos estridentes e o bater de asas dos morcegos. Gritarei, então. Muito alto, com todas as minhas forças, durante muito tempo. Não sei se foi esta a ordem, se será assim depois. Mas com certeza nem você vai me ouvir."

Prólogo d'Um Romance

Noites e noites sozinho.
Só você comigo,
do meu lado, em outro lugar.

Suas palavras me abraçam
e apesar dos pesares,
Estou Bem.
E anseio respirar novos ares.

jogado, maltratado,
virado,
judiado,
escarrado da nossa história,
das lembranças.
Descartado da memória.

Encontro no meio da tarde.
Pele arde, a brasa é grossa.
Trap e bossa nova,

Canários

Pássaros aventureiros
famintos,
em meu jardim.

Não os prendo,
gosto assim,
livres para ir e voltar, enfim.

Osmar Lins - Guerra Sem Testemunhas

"Achava belo, a essa época, ouvir um poeta dizer que escrevia pela mesma razão por que uma árvore dá frutos. Só bem mais tarde viera a descobrir ser um embuste aquela afetação: que o homem, por força, distinguia-se das árvores, e tinha de saber a razão de seus frutos, cabendo-lhe escolher os que haveria de dar, além de investigar a quem se destinavam, nem sempre oferecendo-os maduros, e sim podres, e até envenenados."

Ciúme

Tenho muito ciúme de algumas coisas:
Contos, pixos, músicas.

Tudo que eu queria,
que essas coisas fossem só minhas.

Noite Morna

Noite morna,
cerveja choca.
Mente desdobra poesia.

Você me olha,
minha derrota,
pois um dia me queria.

Tarde quente,
previsão do tempo.
RJTV.

Abandono

Olhos diferentes,
outro par de mãos.
Ambiente estranho
outra marca de ração.

Agora eu tenho um quintal,
e eu já nem me lembro de antes.